segunda-feira, 22 de abril de 2013

Triste vida de lavinho (ou olavo)

Olavinho (ou quase qqqq)

Olavo souza, ou lavinho, como era chamado, sempre foi uma criança mais inteligente e mais esforçada  que a média. Do jardim de infância até o começo do ensino fundamental desconheceu a capacidade de passar um dia inteiro  sem começar uma infinita sessão de perguntas, seja para o professor ou para qualquer adulto que considerasse qualificado, muitas vezes questionando assuntos difíceis demais para serem respondidos naquele momento. Nas reuniões de família já era costume parabenizarem dona Neide e Seu Geraldo por ter um filhinho tão inteligente, “Lavinho fará grandes coisas, não é mesmo meu sobrinho?” Dizia a tia vitória, enquanto o jovem Olavo se escondia atrás da saia da mãe.

No ginásio e no ensino médio, dedicou boa parte do seu tempo à leitura, o que era louvável, visto que era difícil adolescentes se dedicarem para qualquer coisa. Lia de tudo, mas tinha apreço especial por livros de política, filosofia e sociologia, no começo buscava aleatoriamente os títulos, até que passou a perceber que alguns autores tinham opiniões que o agradavam mais, aí passou a ler uma série de livros e ignorar outros. Quando tinha qualquer tipo de discussão em sala de aula, podia-se ter certeza que Lavinho estava defendendo o seu lado de alguma forma, os outros alunos nem ousavam discutir com o colega que tinha noção de assuntos que eles nem sabiam que existiam, e os professores, mesmo discordando às vezes, deixavam o menino sair vitorioso da maioria dos debates, talvez para não constranger o garoto e fazê-lo desistir dos estudos. O professor Fernando, de filosofia, repetia na sala dos professores “nesses tempos, quando a gente vê um aluno esforçado como o Olavo, é difícil não tratá-lo com carinho,  pessoas como ele estão em extinção”. Lavinho tinha o carinho dos professores e o respeito dos colegas ,e a cada ano que se passava tomava mais consciência disso.

Sabe qual o problema dos elogios? Eles são ótimos para encorajar, mas passando de um ponto, eles começam a fazer com que a pessoa elogiada se sinta mais inteligente do que realmente é, e foi o que aconteceu com o pobre Olavo, à medida que ficava mais velho, encontrou pessoas realmente dispostas a discutirem, e tinham opiniões contrárias tão convictas quanto as dele. Ao chegar na universidade, Olavo foi contrariado e confrontado por vários professores e colegas, e muitas vezes foram jogados na sua cara argumentos que ele desconhecia como rebater, também pudera, visto que fazia anos que não lia nada que contrariasse a sua própria opinião, aliás, fazia um bom tempo que não lia nada novo. Numa situação destas, o ideal é demonstrar humildade, reconhecer a falta de argumentos e estudar mais , para se preparar para o futuro, mas o caminho que tomou foi outro.

Como poderia estar errado? Passou quase vinte anos da sua vida sempre estando certo, a única verdade plausível era a que tudo e todos que o contrariavam estavam errados. Pegou a mania de argumentar de forma violenta, tentando não mais defender o seu ponto de vista, e sim tentando mostrar o quanto a pessoa que estava discutindo com ele era burra, para ele todos os argumentos contrários eram alienados e nenhuma fonte que o confrontasse era confiável. “Ah, como se os dados desse instituto valessem de alguma coisa” “você não compreendeu o que esse autor quis dizer, mas também, não dá pra culpar, vi suas notas naquela disciplina”, até mesmo dizia “olha, pode parar  de discutir, os seus argumentos são tão ruins que eu nem vou me dar ao trabalho de responder”.

Ninguém mais levava Olavo a sério, talvez só os seus pais, para a comunidade acadêmica no geral, ou para qualquer adulto que o visse de longe, ele tinha virado um ranzinza, uma pessoa que no máximo servia para divertir, em alguma de suas encolerizadas discussões.

Pobre Lavinho, podia fazer coisas grandes, mas hoje é só um grande idiota.

sábado, 20 de abril de 2013

Redução da maioridade penal, uma péssima ideia.


Faz tempo que eu não tento abordar um assunto realmente polêmico, admito que estava tentando evitar ao máximo aquelas discussões intermináveis com pessoas me chamando de idiota, mas o dever me chama, e eu realmente quero falar sobre isso.

Enfim, acho que todos estão cientes da morte do estudante universitário Hugo Deppman, que foi assassinado mesmo depois de ter entregue o celular. Foi uma situação foda, que comoveu todo mundo, até eu fiquei meio assim porque também sou estudante universitário, podia ter sido qualquer um ali. Mas o que realmente garantiu a repercussão do caso foi o fato do assaltante estar a poucos dias de completar 18 anos e, portanto, seria julgado como menor. E o que acontece sempre quando um menor se envolve com crimes violentos? Se você pensou no mimimi de diminuição da idade penal, acertou.

Não é possível que só eu perceba manipulação e sensacionalismo descarado ali, a mídia tá se usando de um momento de comoção pública para descer uma ideia (e uma ideia ruim) goela abaixo do povo. As pautas dos programas de televisão parecem ter saído de uma daquelas máquinas automáticas pensadas por George Orwell, todo ano as mesmas discussões baseadas em notícias sempre parecidas, eu simplesmente não consigo assistir televisão aberta sem ficar entediado.

Mas vamos falar da discussão em si, e porque eu acho essa história de diminuição da idade penal uma má ideia:

Pra começo de conversa, aquela história de que essa medida combate a violência não passa de uma mentira deslavada, pois segundo dados da fundação casa (antiga FEBEM), crimes violentos praticados por menores constituem pouco mais de 1% das internações (eu to somando homicídio com assalto). A imensa abordagem da mídia nos poucos casos violentos costuma dar a impressão de que o problema anda aumentando quando isso não é verdade, então não pense que você e sua família vão poder andar seguros de noite só porque tão prendendo adolescente adoidado. Isso sem contar que boa parte dos crimes violentos possuem contexto (jovens assaltando por estar sendo ameaçados de morte por traficantes, por exemplo).

E não venham me dizer que as pessoas pobres se envolvem com crime por “falta de vergonha na cara” só porque vocês vivem em um mundinho separado, em algumas comunidades o crime organizado é praticamente um governo à parte, é difícil ir contra pessoas que podem invadir a sua casa a qualquer momento. Vocês jovens e senhores que perderam o celular em um assalto, não saiam dizendo que “se fosse pobre não se meteria com o crime”, porque você não vive nessa  realidade para saber como as coisas funcionam de verdade.

Outra coisa, a cadeia brasileira faz tudo, menos ressocializar os presos, já tinha comentado no meu texto sobre o Jair bolsonaro mas não custa repetir: além de sofrerem maus tratos e “aprenderem” um pouco mais sobre violência, a cadeia ainda deixa um estigma dificílimo de tirar. Ninguém quer contratar um ex-detento para trabalhar, eles ficam com menos oportunidades ainda e acabam voltando a praticar crimes (nas prisões brasileiras, 60% dos presos acabam voltando). A redução da maioridade penal só ia servir para lotar ainda mais os presídios, piorando as já péssimas condições do lugar e perdendo de vez um monte de jovem que poderia retornar para a sociedade.

E, por pior que seja a fatalidade do jovem Deppman, não dá pra dizer que casos como o dele são, nem de longe, comparados com o número de mortes que a violência policial gera ano após ano com jovens negros e de baixa renda. Vamos deixar a hipocrisia de lado, além de estudante,  ótimo filho e amigo leal, Hugo deppman também era da classe média, e esse último item pesou muito para existir tamanha repercussão. Na sociedade regada pela tal da “meritocracia”, passa-se a impressão de que a vida de um único rapaz com condições valha mais do que centenas de pessoas mortas dia após dia nas favelas.

Fora que, tratar a violência juvenil como um problema “principal” é babaquice, é como tentar curar pneumonia com remédio para febre, tu não tá resolvendo o problema, simplesmente está tratando uma consequência. O sistema de exclusão e de péssima distribuição de renda, que aliena e esquece a maior parte da população, esse sim precisa ser tratado, do contrário, adultos e jovens violentos vão continuar aparecendo, não importa quantos queiram prender. A única mudança efetiva vai ser cadeias cada vez mais lotadas e cada vez piores.

Então por favor, senhores que ficam enchendo o saco com mimimi de “se você quer direitos humanos para um marginalzinho, leva ele para casa”, parem por um segundo para pensar que poderia realmente ser o seu filho aí, na sua casa. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Marco Feliciano e bancada evangélica



Já falei do Silas Malafaia e sua homofobia, do Jair Bolsonaro e seu ódio por presidiários, não podia faltar nosso lunático presidente da comissão dos direitos humanos né? <3

Sem chover muito no molhado, todo mundo deve saber a situação, o pastor evangélico marco Feliciano foi eleito presidente da comissão de direitos humanos da câmara dos deputados, essa  nomeação se mostrou bastante irônica, visto que o parlamentar já era conhecido por manifestações preconceituosas no twitter (em uma delas dizia que o povo africano é amaldiçoado, em outra disse que deus matou John Lennon).

Em todo o país se fazem manifestações em favor da retirada de Marco da comissão, são feitas passeatas, protestos, abaixo-assinados, e pelo que eu sei nenhuma sessão dele consegue terminar porque sempre acontece alguma gritaria. O que mais tá me incomodando em toda essa história é que existem duas forças na contramão dos movimentos, uma que APÓIA o parlamentar, e outra que quer avacalhar o movimento dizendo que ele não é importante.

Ao primeiro, fica a minha pena, apoiar marco Feliciano para mim é quase tão ruim quanto apoiar Jair Bolsonaro (e olha que eu conheço gente que apoia os dois), é sinônimo ou de um conservadorismo babaca ou só de burrice mesmo. Esqueci de salvar a imagem que eu vi, mas vi uma pessoa na minha timeline comemorando, dizendo que estávamos no rumo de uma JESUSCRACIA. (pra mim já deu!)
Agora para as pessoas que ficam dizendo que tem muita coisa mais importante para se protestar, aqui vai:

Pra começo de conversa ele não é tão desimportante assim, marco Feliciano presidindo qualquer coisa é só uma amostra do poder que a bancada religiosa tá ganhando, e isso pode travar várias discussões importantes (como a dos direito dos homossexuais), o conservadorismo tá crescendo de uma forma preocupante, e eu acho MUITO válido acabar com a festa desse lunático.

Mesmo que ele não fosse tão importante assim, ainda assim defenderia os protestos, porque problemas pequenos também deveriam ser mais fáceis de resolver, e se dá pra resolver, porque ignorar apenas sob o argumento de que existe mais com o que se preocupar? Porque se depender do que as pessoas dizem, sempre só vão existir duas categorias de problemas: os pequenos demais para se preocupar e os grandes demais pra se resolver.

Não é de hoje que a bancada evangélica tem ganhado um espaço considerável na câmara e no senado, a cada nova eleição mais e mais pastores ocupam cargos políticos. É compreensível, quando se leva em conta que a igreja evangélica é a denominação que mais cresce no país, o problema é quando crenças são colocadas no meio de assuntos do interesse público, pois geralmente onde há muita religião, também há muito anacronismo.