Que tem uma coisa errada com o Brasil todo mundo já sabe
desde antes da onda de “#obrasilacordou”, é de senso comum também que não é
apenas o nosso país que tá desviado do caminho certo, e a parte engraçada é que
a maioria dos lugares está errada mais ou menos pelas mesmas razões.
Antes de continuar, queria deixar claro que eu não vou me
aprofundar nos motivos da situação atual, nem propor nenhum tipo de coisa nova,
porque iria delongar muito o texto. Mas acho que todos sabem pelo menos uns cinco motivos para ficar revoltado, e que
por mais que ninguém saiba qual é a direção certa, dá pra ver que não é essa.
Dizem que as coisas só estão assim por culpa do povo que não
se manifesta, e que o povo só se acomoda porque é alineado, e que quem os aliena são
justamente os meios de comunicação e entretenimento, os agentes da famosa ~mídia~.
Por mais que seja um raciocínio cru, se encaixa muito bem em quase todos os
graus de interação “indíviduo-Meios de comunicação”, desde um programa de rádio
de cidade pequena até os mais famosos blockbusters. A verdade é essa: a mídia,
seja para informar ou para divertir, tem um forte impacto na opinião pública
(inclusive para fazer com que ela não tenha opinião nenhuma)
Desde o surgimento da televisão que o mundo viveu o que hoje
conhecemos como globalização, que se consolidou de vez na queda do muro de Berlim
e que hoje está mais forte do que nunca. Basicamente se criou a ideia de uma “cultura
global”, que se fazia presente em todos os países, subjulgando os costumes
locais. O Brasil e todos os países de terceiro mundo ou “em desenvolvimento” se
comportaram semelhante a um índio que aceita a catequese de bom grado. Nós
jovens percebemos isso bem mais no âmbito da música, das outras artes e do “estilo”,
mas não foram só essas coisas que
sofreram mudanças, pararam de existir grandes diferenças entre modelos
políticos e econômicos, e os países que tentam resistir à essa nova lógica são sumariamente
boicotados (Alô cuba, Alô china, Alô países “terroristas”)
Com toda essa uniformidade entre os lugares, torna-se muito complicado pensar em grandes mudanças,
justamente porque se criou a ilusão de que as coisas são assim no mundo todo e
que por isso o modelo imposto deve ser o mais sensato (Quem nunca ouviu aquele
amigo dizer “se o socialismo fosse bom a União Soviética tinha ganhado a guerra
fria”). Criou-se a ilusão de que todos os problemas do mundo estão enraizados
ou são grandes demais, e uniformidades ridículas chegam a ser aceitadas, como a
célebre máxima “todo bandido é corrupto”, que só serve para as pessoas se
desinteressarem ainda mais pela política do próprio país.
Ok, já me aprofundei mais do que gostaria, a questão que eu
quero chegar é: O povo é acomodado pela mídia e a mídia segue uma lógica globalizada.
Então podemos dizer que a globalização é a causa de muitos problemas?
Sim, ela é a causa de muitos problemas, mas também pode ser
a solução.
Todos os teóricos do começo do século passado eram
pessimistas com os meios de comunicação (Vide Adorno, Walter Benjamim e todos
os tiozinhos de Frankfurt) e pessimistas
com razão, afinal de contas, o contexto que eles viviam era da apropriação
fascista dos instrumentos de informação e de entretenimento, e vemos através do
olhar deles o quanto a mídia pode ser podre. Os meios de comunicação do século
passado podiam ser considerados grandes impérios de donos da verdade, a televisão
então nem se discute, moldou e manipulou a opinião de tanta gente que a maioria
dos intelectuais a detesta.
Aí veio a globalização, e logo depois a internet, o que
mudou?
A internet facilitou que o discurso hegemônico alcançasse os
quatro cantos da terra, verdade, mas do mesmo modo que ela fez isso, também deu
aos opositores uma voz que eles nunca tiveram. Mesmo que ainda tenha, a
exigência financeira para se publicar uma ideia na internet é muito menor do
que a mesma para um jornal ou para a televisão, que estão à serviço muitas
vezes dos grandes empresários. Eu mesmo que sou um completo ferrado tenho
condições de escrever isso aqui e ainda por cima publicar gratuitamente para os
meus seguidores.
A mesma globalização
que abriu as portas para que viessem estranhos arrancar a nossa individualidade
cultural deixou essas mesmas portas escancaradas para que gritemos pro mundo
todo que esse tipo de atitude é foda. Henry Jenkins se apropriou dessa ideia quando
criou o conceito de cultura de convergência, onde o receptor tem amplo poder de
feedback aos conteúdos que lhe são passados, e que todos podem ser produtores
de conteúdo (é mais que isso, mas resumi para vocês)
Não vou ser ingênuo, as ideias hegemônicas ainda gritam mais
alto, mas a grande diferença é que todo mundo agora pode gritar também. Vamos
fazer barulho juntos, e nem precisa ser a mesma coisa, só precisa ser diferente
do que nos é apresentado aqui. É preferível que o mundo todo possua modelos
diferentes de sociedade, para termos parâmetros para saber qual deles é o mais sensato. Acredito Veementemente que não
existem respostas e nem soluções absolutas para nada, mas se existisse, pode
ter certeza que não é essa que a gente tá vivendo.