sexta-feira, 29 de março de 2013

Aprendi que (2) ...sobre lares, amigos e distância



Casa, lar.
À quase três anos tive quase certeza que essas palavras tinham sido arrancadas da minha vida, fui arrancado da minha cidade natal contra a minha vontade, deixando amigos, amores e lembranças para trás. Por algum tempo vivi meus dias tentando repetir aqui a vida que tinha lá, terminei descobrindo que nada mais seria como era antes.

Depois passei a viver  em função de minhas viagens de volta, nas férias. Pensava que assim tudo ficaria certo, teria a mesma vida, em um número limitado de dias, usando os outros apenas para garantir que minhas viagens dessem certo. Cada vez que voltava, meus amigos tinham conhecido pessoas que eu não conheci, e senti a cada vez que pertencia um pouco menos àquele lugar.Fiquei triste, como alguém que não tem nem pra onde ir nem pra onde ficar.

Hoje posso dizer que aprendi com o tempo, aprendi que a vida muda, mas que a gente não pode agir na contramão das mudanças.

Aprendi que meus melhores amigos vão fazer grandes amizades sem mim, mas que isso não significa que serei esquecido.

Aprendi que não dá para procurar pessoas novas que satisfaçam sua velha zona de conforto, mas que isso não significa que você pode encontrar abrigo em gente diferente.

Aprendi que “mudar” não é uma premissa para fazer amigos em um lugar diferente.

Aprendi que você não pode esperar ter o mesmo número de amigos em outro ambiente, mas deve ficar feliz em não estar sozinho, acima de tudo. Companhia não tem nada a ver com quantidade.

Aprendi que é impossível esquecer de onde você veio, do mesmo modo que é impossível para o lugar que veio esquecer de você.

Aprendi que amor é um sentimento que não sai de você, você só escolhe a melhor pessoa para direcioná-lo. E que é sempre possível amar de um jeito que você nunca tinha amado antes.

Enfim, aprendi que você não precisa se desfazer do passado para viver mudanças. 

Acima de tudo, aprendi que lar é um conceito que se constrói, e é possível ter mais de um , posso dizer com alegria que tenho dois :)
J

quarta-feira, 27 de março de 2013

humor controverso?



Quem acompanha o meu blog ou simplesmente conversa comigo com frequência sabe o como eu defendo o humor em todas as suas formas, desde filmes de humor britânico até stand-ups americanas daqueles bem pesados. Também sabem que eu sou de argumentar que existe um exagero por parte de algumas pessoas em atribuir maldade à algumas piadas fora de contexto. Mas dá pra defender o senso de humor de pessoas que compartilham (para zoar) a imagem de uma menina que não depila as sobrancelhas? Não dá, porque isso não é senso de humor, é só maldade.

Na contramão de fundamentalistas puritanos do politicamente correto, tá crescendo (e muito) o espaço para websites, páginas de facebook e vídeos que vão além do politicamente incorreto e do humor negro. Por um tempo, achei que se tratava de alguma “resistência” à censura do humor na internet, mas se foi isso mesmo, já passou dos limites faz muito tempo. Páginas que se intitulam “humor controverso” não fazem muito mais do que mostrar gente morta/morrendo/doente/”feia”, pegam uma criança com síndrome de down e colocam a legenda “chama o GM, o servidor tá bugado”.

Para mim algumas piadas servem para “rir para não chorar” de algumas adversidades da vida, mas não quando tu simplesmente pega a imagem de um feto abortado no chão com a legenda “esse dia foi loko”, não existe aquilo que eu chamei em um texto antigo de  “relação entre amigos que zoam”, é só bullying e maldade travestida de ousadia. A diferença entre isso e você zoar um negro ou um gay (eu sei que também é ruim), é que pelo menos negros e gays tem capacidade de se defender. Fora que é um humor fraco por si só, qual é a graça de pegar a foto de uma pessoa com uma “mononcelha” e só dizer “HAHAHAHAHAHAHA OLHA COMO ELA NÃO SE DEPILA”?

Você, que acha que está sendo rebelde enquanto zoa uma criança com doença mental, vou te contar um segredo, você não tá revolucionando nada, é tão preconceituoso quanto costumam ser, a única diferença é que você quer esfregar isso na cara dos outros. Quer ser diferente? Mostre compaixão e respeito, porque é esse tipo de atitude que tá faltando. 

Relações de trabalho- alguem vale menos do que você?

"operários" de Tarsila do Amaral (eu sei que o contexto da obra fala de fábricas , mas eu acho que a ideia de massificação do indíviduo pode ser interpretada da mesma forma


Cara, eu me sinto muito mal quando alguma pessoa trata outra como lixo baseado na sua profissão. Sabe quando alguma pessoa da sua família grita com a empregada ou quando alguém passa e joga lixo no pé do gari na rua? Não sei porque, mas nunca lidei bem com isso, e não quero que ninguém ache que só to falando para parecer uma pessoa boa.

Para mim, a sociedade é um grande organismo vivo que depende das funções que cada indíviduo realiza. Tudo bem que algumas pessoas ganhem mais dinheiro porque passaram mais tempo se especializando em uma determinada área, mas isso não a faz melhor que ninguém, porque a profissão “gari” é tão útil quanto à profissão “médico”. Se todos os garis/faxineiros sumissem do mundo e ninguém mais desempenhasse as suas funções, em pouco tempo os lugares virariam chiqueiros, propensos a todo o tipo de doença, o que poderia desencadear uma epidemia no estilo de qualquer uma da idade média.

Acho que ninguém é superior ou inferior quando se fala de relações de trabalho, se você trata subalternos como pessoas que valem menos, você é um idiota. Se um dia eu tiver empregados, espero tratá-los como amigos que executam funções que eu não sei/não tenho tempo de fazer. Porque é isso, não importa se você é um médico, advogado, engenheiro ou o que quer que seja, ninguém é auto suficiente e ninguém faz tudo sozinho, portanto, comece a tratar todos a sua volta com o devido respeito.

domingo, 10 de março de 2013

Resenhando



Quando soube que o trabalho final (e único) da disciplina seria uma resenha de livro, confesso que fiquei até um pouco aliviado, quero dizer,  eu só precisava ler um livro e escrever alguma coisa sobre ele. Mas a cada dia que passava, eu percebia que era uma tarefa mais difícil do que aparentava.

Para deixar a coisa mais didática, eu vou dividir o processo de confecção da resenha em quatro partes.
1.       
     Escolha do livro.
Parece brincadeira, mas deve ter sido a parte que mais me deu trabalho, tem gente que reclama quando professor coloca muita regra, mas quando “pode ser qualquer coisa”, fica difícil saber por onde começar.  Passei um longo tempo tentando decidir  um bom livro, e parecia que o mundo estava conspirando contra mim.

Não me interessei por quase nenhum livro e, quando algum chamava minha atenção, não batia com a única exigência (ter sido publicado em 2012). Depois de muita procura que realmente comecei a me interessar por alguma coisa.

O Primeiro livro que fiz resenha se  chamava “liberdade de expressão X liberdade de imprensa”, e eu realmente achei que seria interessante falar sobre a minha área, mas o livro era cheio de artigos universitários que eu mal entendia. Depois resolvi ler um épico brasileiro chamado  “a batalha do apocalipse”, que um amigo meu tinha dito que fora lançado esse ano,  adorei o livro, até descobrir que na verdade ele tinha sido publicado em 2007.

Depois, comprei o livro “barba ensopada de sangue”, porque tinha sido um livro aclamado pela mídia, mas eu sinceramente NÃO CONSEGUI TERMINAR DE LER, achei o livro chato para caramba, e olha que eu gosto de ler. Por fim, descobri que o Veríssimo tinha lançado um livro, e com Veríssimo não tem erro, nunca vi ele fazer nada ruim. (eu sei que eu podia falar de um livro ruim, mas o problema é que fui incapaz de terminar aqueles).

2.       Ler o livro.
Por ser um livro relativamente pequeno, acabei protelando bastante a sua lida, tentando ler uma ou duas por dia antes de dormir. Não tem muito o que falar sobre isso.

3.       RELER o livro.
Tentei  começar a resenha logo após terminar o livro, mas me vi incapaz de escrever qualquer coisa que seja sem reler. É difícil escrever a resenha sem reler o livro porque, numa primeira leitura, o meu foco se concentrou mais na narrativa (e no humor) do que nos discursos envolvidos e a forma com que eles foram construídos. Reler o livro é muito importante para se elogiar/criticar/dissertar com categoria.

4.       Escrever (de fato) a resenha.
Comparado com as três primeiras partes, a última seria moleza. Não foi porque o professor estipulou que deveria ter QUATRO folhas no mínimo. Eu consigo me expressar bem com poucas palavras, mas desconhecia um modo de escrever tanto sem “encher lingüiça”
tentei ler mais sobre o autor e sobre a maneira que ele escreve, bem como relações entre os temas que são abordados nas crônicas com temas da atualidade.

Enquanto escrevo esse relato, ainda falta pouco menos de metade das quatro folhas para terminar, espero conseguir até o final da semana.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Maresia, Terapia




Acho que todas as pessoas do mundo, sobretudo as arrogantes, deveriam reservar um espaço na própria agenda para sentar na areia da praia e olhar para o mar. As ondas que vão e vem, enchendo e esvaziando a maré, combinadas com um horizonte infinito que te engole.

Segundo os livros, o mar só começou a ser conquistado por volta do século XV, mas isso é o que diz a teoria, na prática ele  nunca foi dominado por ninguém, continua selvagem, continua imponente. Experimente tentar mudar o fluxo do oceano e verá que sua força não significa nada para  ele, a resistência humana  a uma mera onda se assemelha a de uma formiga sendo pisada.

As pessoas são, sim, inúteis perante as forças naturais que as cercam, mas qual o problema? O mundo não  intimida, o mundo  acolhe, protege.  Na próxima vez que tiver a oportunidade de ir em uma praia, sente-se e encare o horizonte, não lute contra a imensidão, passe a aceitá-la. Perceba que o infinito que te cerca não te pisa, pelo contrário, te envolve de maneira semelhante à um abraço confortante, que é, muitas vezes, tudo de que uma pessoa precisa.