Aquele momento em que você não sabe se o que dura mais é a
sua paixão ou um cigarro já usado, me sinto como um brinquedo quebrado, ou
melhor, quebrado não é bem a palavra, sou como um computador com o
processador já obsoleto, que ainda
funciona, mas existem outros melhores e mais sedutores no mercado, e você tem
condições de “comprá-los”, não precisa
se contentar com essa lata velha se outras necessidades foram criadas e eu não
posso supri-las.
O que tínhamos sempre foi meio virtual, e eu lidava bem com
isso, não sabia que também era um sentimento industrial, que seguia a lógica do
mercado até mesmo na obsolescência programada,
nosso amor foi em série, e o modelo do ano já é outro.
Não a culpo, e tento me preencher com uma frieza que não faz
parte de mim, aquela frieza necessária capaz de encarar qualquer coisa como
pouca coisa e tratar a si mesmo com descaso, nada é importante demais, não é? Mas
não sou um sujeito frio, não consigo realmente suprir minhas emoções, o melhor
que posso fazer é distribuí-las, onde tem tristeza preencho com rancor e onde
tinha amor , rearranjo para a raiva.
Disse que não a culpo, mas isso não significa que eu te entenda,
não entendo seus gestos, não entendo em
como você congelou o que construímos com um sopro das suas palavras frias, e
depois colocou tudo abaixo como se
fossem castelos de cartas, mesmo que eu achasse que se tratavam de muros de
concreto.
E depois ainda vem me dizer que foi o melhor para nós dois,
vai ver você está mesmo certa, me conhece tão bem, melhor do que eu jamais vou
chegar a te conhecer, agora estamos livres pelo menos, melhor seria dizer que
você está livre, como sempre foi, enquanto eu ainda estou algemados à uma
gaiola de lembranças.
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