Eu estou com um dom engraçado para reclamar ultimamente,
sinto como se o tédio tivesse liberado uma habilidade que eu não tinha antes
pelo simples fato de ter mais o que fazer. A greve dos professores de
universidades federais está me dando a vontade de fazer textos melhores que o
período de aulas não dava, resolvi fazer esse espaço aqui para que eu reclame
de algum assunto em especial que esteja me incomodando. Mas como eu sempre
digo, não espere pontualidade nem compromisso vindo desse blog.
Tenho percebido o aumento no número de fãs de animação
oriental nos últimos tempos, percebi isso nas estampas de camisetas que vejo na
rua, nos eventos de anime e, principalmente, no facebook . Costumava frequentar
os eventos da minha cidade quando ainda eram feitos em associações de moradores
no meio do mato com pouco mais de vinte pessoas, e eu me lembro o quão
divertidos eles eram.
Queria dizer que eu não possuo o complexo hipster de deixar
de gostar de uma coisa apenas porque massificou, fico até muito feliz por isso.
O crescimento desse mercado incentiva as editoras e empresas a investir nele, trazendo novos
títulos de mangá para nossas bancas e dando um retorno financeiro para que os
eventos sejam cada vez maiores e com melhores estruturas.
Mas por ser alguém que acompanhou o crescimento disso, não
consigo não me decepcionar vendo essa “nova geração” de otakus e otakas (e eu
sei que elas fazem questão de serem chamadas de otomes mesmo sabendo que nem
está certo). Lembro de como o meu grupo de amigos (que mantenho até hoje) era
formado basicamente de nerds viciados em videogame, animação japonesa, HQs
americanos e Rock’ n Roll.
O que vejo nos adolescentes agora que passei dos dezoito
anos são um bocado de pensamentos escrotos em mentes imaturas, não estou
dizendo que otakus eram maduros, muito pelo contrário, ser retardado era algo
até muito normal na minha época. Mas o que eu vejo são garotos que ficam de
mimimi de como o Japão é superior e que eles vão se mudar um dia, enquanto se
gabam de não estudar e passar o dia vendo anime (queria saber como diabos eles
querem ir pro Japão), Pessoas reclamando da vulgaridade do Brasil mas
compartilhando imagem da Hinata de biquíni,
acho que se é 2-D a pornografia tá valendo né .
Um pensamento muito comum nessa nova geração é o de que ser
oriental é um pré-requisito para algum material artístico ser bom, assim tudo
bem em meter o pau em restart ou no one direction, mas de SUPERJUNIOR ninguém
pode falar. Reclama do Brasil que não tem mangá, mas é o primeiro a criticar quando
QUALQUER produção nacional aparece.
Antigamente os otakus eram aquelas pessoas normais,
Conscientes de sua condição de minoria, e se reuniam com seus iguais para fazer
coisas divertidas. Hoje em dia otakus são adolescentes com uma necessidade
irracional de auto-afirmação, cuspindo na cara do mundo: SOU OTAKU! BAKA KAWAI ITADAKIMASU! SOU ESQUISITO MESMO!
ESSE MUNDO NÃO DÁ PRA MIM! OTAKU NÃO MORRE VIRA ANIME! BRASIL É UMA BOSTA QUERO
IR PRO JAPÃO! FIZERAM UM ANIME DE SUPERNATURAL, BEM MELHOR! (SEU CU) DESLIGA ISSO, EU SÓ ESCUTO K-POP! (antigamente
éramos viciados nas aberturas dos animes, mas não negávamos um bom e velho rock
n roll).
Outra coisa que me deixa um pouco deprimido é em como o
nível intelectual dessa gente caiu, será que só eu lembro da época que tinham
aqueles fakes interpretativos onde as pessoas tinham que ter um português
impecável senão ninguém nem falava com ela?. Hoje em dia só vejo comentários do
tipo:
“jente di qui anime essa img eh?”
“soh os fortis intenderão rsrsrsrs”
“goku por favor mati tds os posers, kkkkkkkkkkkk”
PORRA, ESSES COMENTÁRIOS ME DÃO CÂNCER NOS OLHOS! Não tenho
o português mais correto do mundo mas existem coisas que eu acho que as pessoas
deviam ter vergonha de escrever. Na minha época dava pra distinguir claramente
o domínio da língua portuguesa de um otaku em comparação a um funkeiro, hoje
não duvidaria se o cara que vende picolé na esquina escrevesse melhor.
E aqueles meninos de 11 anos que compartilham que não são viciado
em bebida ou cigarro por causa de anime só pra mamãe ver? O que uma coisa tem a
ver com a outra? Aposto que a maioria deles vai começar a beber quando fizer
dezesseis anos e não vai ter nenhum anime que pare.
Na minha época tinha muito otaku estranho, tinha um cara de
uma dessas lojinhas de acessórios que se tu perguntasse as horas ele ia te
mostrar as ofertas e conversar uma hora
sobre cultura japonesa, era um sujeito bem estranho, mas eu aposto que ele não
achava isso. Disse isso porque esses dias vi um compartilhamento no facebook
dizendo: “Sou estranho, assisto anime o dia inteiro rsrsrsrs #orgulhootaku”.
PORRA MEU AMIGO! Porque cargas d’água você é estranho por
ficar sem fazer nada? Você é no máximo vagabundo, e se significasse, que porra
de orgulho alguém tem por ser esquisito? Gente esquisita sequer acha que é esquisita e,
se chegasse à essa conclusão, aposto que iria mudar de atitude, parece que nessa década
ser esquisito é o novo it.
Tanta coisa me irrita que vocês nem fazem ideia, tipo pseudo
ateuzinho compartilhando imagem do messias ser o Goku (sendo que eu aposto que
tá em visualização personalizada para o papai e a mamãe não ver. Ou criança pagando de psicopata porque assiste another, ameaçando posers com
guarda chuvas (que medo).
Não dá pra generalizar, claro. Existe muita gente decente
nesse cenário, e isso inclui os organizadores de eventos, da minha geração ou
até mesmo uma para trás (estou falando tanto em “minha época”, “minha geração”
porque, em um mundo viralizado, as gerações não são feitas mais em décadas, e
sim de dois em dois anos). E também existem jovens otakus que seguem o exemplo
dos mais velhos, o meu medo é que daqui a um tempo essas crianças retardadas se
tornem a fôrma para as outras gerações de fãs que virão, não sei quanto tempo
ainda vai durar essa onda de coisas japonesas aqui no Brasil by the way.
Eu não me considero mais um otaku mesmo, estou mais para
simpatizante da causa, meus gostos mudaram um pouco, ainda acompanho algumas
coisas, mas não com a mesma paixão de anos atrás, apenas me sinto na
responsabilidade de dividir um pouco da minha revolta, o mundo otaku
representou toda a minha adolescência, momentos inesquecíveis e amigos para uma
vida inteira, queria que ele sobrevivesse dignamente, para que mais pessoas
possam viver os bons anos que vivi.