segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Naturalmente otário



Uma discussão milenar essa de se o homem é essencialmente bom, ruim ou uma folha em branco, e não sou eu que tenho a resposta, a única certeza que tenho é que existe muito filho da puta andando por aí.

Três da tarde andando pelo centro da cidade com um amigo, e me para um cidadão montado em uma bicicleta perguntando o nome da rua, nós não sabíamos , resolvi perguntar para alguém por perto até que me responderam (e eu até esqueci). Quando estávamos indo embora ele nos perguntou se existia uma ONG por perto, outra informação que a gente não tinha, a rua estava vazia e não tinha mais ninguém pra perguntar.
A gente já estava desconfortável de estar falando com um completo desconhecido, e ficou mais estranho ainda quando ele pediu um celular pra fazer uma ligação, por reflexo nós dois falamos que não estávamos com nenhum. Ele reclamou que não morava na cidade e estava completamente perdido, perguntou que curso a gente fazia, o meu amigo faz design, e até explicou um pouco sobre a profissão para ele.
“Vocês estão com celular sim, to vendo pelo bolso de vocês, eu não sou ladrão pô, sou trabalhador” foi o que ele disse enquanto apontava pro volume em nossos bolsos, quando ele falou isso eu até dei um passo pra trás. Ele disse que nem precisava pegar o telefone, a gente mesmo podia fazer a ligação por ele, meu amigo resolveu confiar nele, e eu não o culpo, se demorasse um pouco mais ou se eu estivesse sozinho também ia acabar fazendo o mesmo.
Enquanto meu amigo digitava os números do aparelho, o sujeito disse que nós estávamos mais do que certos agindo dessa forma porque a cidade andava muito perigosa mesmo, meu amigo riu, dizendo que já tinha sido assaltado seis vezes. O aparelho tinha acusado que o número era desconhecido, e ele fez uma cara de quem não entendeu muito bem o que estava acontecendo.
Resolvemos tentar mais uma vez, deve ser uma droga ficar perdido mesmo, e  o resultado seguiu o mesmo, quando aproximamos o celular do ouvido dele para que ele ouvisse a mensagem, ele tomou o celular e disse que se a gente viesse atrás dele iria levar um tiro na cara. Foi embora levando um celular e deixando nós dois com cara de idiotas.
Eu não quero começar o velho discurso de como o Brasil anda perigoso, de como tudo isso é culpa da educação ou botar a culpa em política. Estou aqui como uma pessoa que está chateada por viver em mundo onde não se pode agir de boa fé. O que eu vivi hoje, mesmo tendo saído completamente ileso (meu físico e o meu patrimônio) nunca vai sair da minha memória, o rosto daquele homem traindo a confiança de duas pessoas que só queriam ajudar.
Eu sei que parece aqueles defeitos que as mulheres falam em concurso de miss, mas acredito que meu pior defeito seja acreditar demais nas pessoas, tenho essa mania de ver lado bom até mesmo em gente que já fez mal pra mim e confiar em pessoas que mal conheço. Garanto que menos da metade das pessoas que reclamam que tem isso no facebook realmente tenham, porque  eu tenho e sei o quanto isso é frustrante.
Hoje me fez ver o quão fundo uma pessoa pode chegar, o quanto ela pode ser perversa para conseguir o que quer, hoje sei que não dá pra ser legal com as pessoas na rua. E não me venham dizer que a culpa disso é do governo e que aquele cara é uma vítima do sistema, sei que existe muita gente assim, mas ele não era um deles, ele podia simplesmente ter colocado uma arma na minha cabeça e dado um tiro no meu pé se eu reagisse, seria um assalto mais digno.
Não vou cair em generalização porque existe muita gente legal por aí, em algum lugar do mundo  agora deve existir um cara longe da sua cidade natal precisando de uma informação e um telefonema, que talvez demore muito pra conseguir uma ajuda por conta de tipinhos como esse. O ser humano não é mal por essência, mas tem uma capacidade de maldade não presente em nenhuma outra espécie.
Se eu tivesse que responder a pergunta do primeiro parágrafo, diria que o homem não é essencialmente porra nenhuma, não existe essa coisa de fórmula mágica para o caráter de um ser humano, não existe uma natureza humana por si só, existem “naturezas” humanas distintas, cada pessoa faz parte de um desses grupos, algumas são naturalmente boas, outras naturalmente ruins, e ainda (como eu) naturalmente otárias

Um comentário:

  1. Filosófico, trágico e poético. Uma mistura inexata de Xico Sá, Nelson Rodrigues e algum estagiário de jornalismo que queria trabalhar na página de cultura e foi mandado pra página policial. - Diria um comentarista tentando ser original só pq tem que ser original em todos os comentários que faz todo dia.
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    No entanto eu digo: por ser humano, por consequência essencialmente um 'porra nenhuma' é que a maldade existe nos homens 'porras-nenhuma' desde que o mundo é mundo. Há maldade em todos nós, ainda que velada, que mostra nem que seja quando nos regojizamos nas vinganças das mocinhas contra as vilãs nas tele-novelas.

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