O quanto vale a ideologia que você carrega? Seja ela
uma política, econômica ou religiosa,
qual o valor de suas ideias? Quando eu pergunto isso eu quero, especificamente,
fazer a seguinte pergunta: O que você sacrificaria por elas?
Pode ser que , por novas convicções econômicas ou
religiosas, você resolva se desfazer de bens materiais, largar alguns costumes,
deixar de comer certo tipo de alimento ou simplesmente cancelar os compromissos
de sábado. Mas o que fazer com aquelas
pessoas que lhe acompanham desde antes de você se lembrar? Vale a pena se
desfazer dos amigos?
Quando eu era mais jovem isso me incomodava especificamente
quando algum amigo meu se tornava religioso, continuávamos as mesmas pessoas,
com personalidades compatíveis e uma série de boas lembranças em comum, mas uma
única mudança na crença de um terminava por transformar-nos em perfeitos
estranhos.
Sempre começava com o papo de “nada vai mudar”, mas os dias
passavam e os meses vinham logo atrás, Conversas de assuntos outrora divertidos
se transformavam em uma tentativa de conversão por parte dele, tentando à todo
custo fazer com que eu o seguisse, para ser salvo.
Costumo levar isso na brincadeira, mas quando todos os
assuntos possíveis acabavam (propositalmente)
convergindo justo onde divergíamos,
ficava difícil manter uma relação agradável. Logo cada um procurou pessoas que
pensassem em sintonia com o próprio ponto de vista, e aquela outrora grande amizade se transformou
em uma série de “bom dias”. (O contrário também é valido, se alguém se torna
cristão em um grupo de amigos homogeneamente ateu, é mais do que comum que os mesmos tentem
trazer ele de volta, por meio de um constrangimento constante que quase nunca
termina bem.)
Ultimamente tenho percebido que este tipo de atitude anda
saindo do âmbito religioso e adentrando em outras áreas de discussão que
costumam ser “polêmicas”. Amizades terminando porque uma das pessoas prefere uma visão política de esquerda,
porque não concorda com a política de cotas ou por não ter se sensibilizado
pelo drama dos guarani kaiowá.
Tá existindo uma dificuldade por parte destas pessoas
(geralmente jovens) em separar “ideais” de “indivíduos”. Quando eu critico
feminismo, políticas de cotas, internação de gente da cracolandia ou qualquer
outro tema, eu estou fazendo uma crítica ao movimento, à entidade amorfa
denominada “ideologia” , ou ainda “atitude”, não faço isso para atacar
pessoalmente quem segue essas coisas. E eu sei que tem gente que, pra criticar
um movimento, sente necessidade de atacar as pessoas que o apoiam, mas isso aí
já é outra história.
E eu sei que é difícil não estabelecer preconceito de
pessoas que se posicionam de forma contrária às suas ideias, eu mesmo faço isso
o tempo todo, é normal. Mas se você conhece alguém, e de repente a sintonia que
tinham em alguma área se abalou, você deveria conhecê-la bem o bastante para
saber que isso não a torna um indivíduo de má índole.
Você comunista,
existe muita gente escrota e de má índole que concorda com o que você
pensa .
Você cristão, não vá pensando que não existem pessoas que fazem muita merda por aí
em nome do que
você acredita
Você ateu, grande
parte das pessoas que pensa como você são um monte de intolerantes, que, sem
nenhum estudo, chamam os religiosos de burros.
E por aí vai, eu posso colocar mil exemplos diferentes
disso, nenhuma ideologia é à prova de balas, tudo tem falhas, qualquer que seja a sua crença, sempre vai existir alguém que a
critique (e com razão), não é preciso ser mau caráter para isso.
Entenda que
discussões e divergências não podem ser encaradas como guerras, e sim como uma
experiência mútua de aprendizado, quem discorda de você não deveria ser seu
inimigo, e sim um companheiro de debates, não perca amigos por conta disso. É defendendo
seu ponto de vista de forma saudável que a pessoa se torna íntima de suas ideias,
analisando-as e se analisando continuamente, seja para fortalecer o que já
acredita ou até mesmo mudar, afinal de
contas, todos nós temos o direito de “pensar
de novo”.
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