Olavinho (ou quase qqqq) |
Olavo souza, ou lavinho, como era chamado, sempre foi uma
criança mais inteligente e mais esforçada que a média. Do jardim de infância até o
começo do ensino fundamental desconheceu a capacidade de passar um dia inteiro sem começar uma infinita sessão de perguntas,
seja para o professor ou para qualquer adulto que considerasse qualificado,
muitas vezes questionando assuntos difíceis demais para serem respondidos
naquele momento. Nas reuniões de família já era costume parabenizarem dona
Neide e Seu Geraldo por ter um filhinho tão inteligente, “Lavinho fará grandes
coisas, não é mesmo meu sobrinho?” Dizia a tia vitória, enquanto o jovem Olavo
se escondia atrás da saia da mãe.
No ginásio e no ensino médio, dedicou boa parte do seu tempo
à leitura, o que era louvável, visto que era difícil adolescentes se dedicarem
para qualquer coisa. Lia de tudo, mas tinha apreço especial por livros de
política, filosofia e sociologia, no começo buscava aleatoriamente os títulos,
até que passou a perceber que alguns autores tinham opiniões que o agradavam
mais, aí passou a ler uma série de livros e ignorar outros. Quando tinha
qualquer tipo de discussão em sala de aula, podia-se ter certeza que Lavinho
estava defendendo o seu lado de alguma forma, os outros alunos nem ousavam
discutir com o colega que tinha noção de assuntos que eles nem sabiam que
existiam, e os professores, mesmo discordando às vezes, deixavam o menino sair
vitorioso da maioria dos debates, talvez para não constranger o garoto e
fazê-lo desistir dos estudos. O professor Fernando, de filosofia, repetia na
sala dos professores “nesses tempos, quando a gente vê um aluno esforçado como
o Olavo, é difícil não tratá-lo com carinho,
pessoas como ele estão em extinção”. Lavinho tinha o carinho dos
professores e o respeito dos colegas ,e a cada ano que se passava tomava mais
consciência disso.
Sabe qual o problema dos elogios? Eles são ótimos para
encorajar, mas passando de um ponto, eles começam a fazer com que a pessoa
elogiada se sinta mais inteligente do que realmente é, e foi o que aconteceu
com o pobre Olavo, à medida que ficava mais velho, encontrou pessoas realmente
dispostas a discutirem, e tinham opiniões contrárias tão convictas quanto as
dele. Ao chegar na universidade, Olavo foi contrariado e confrontado por vários
professores e colegas, e muitas vezes foram jogados na sua cara argumentos que
ele desconhecia como rebater, também pudera, visto que fazia anos que não lia
nada que contrariasse a sua própria opinião, aliás, fazia um bom tempo que não
lia nada novo. Numa situação destas, o ideal é demonstrar humildade, reconhecer
a falta de argumentos e estudar mais , para se preparar para o futuro, mas o caminho
que tomou foi outro.
Como poderia estar errado? Passou quase vinte anos da sua
vida sempre estando certo, a única verdade plausível era a que tudo e todos que
o contrariavam estavam errados. Pegou a mania de argumentar de forma violenta,
tentando não mais defender o seu ponto de vista, e sim tentando mostrar o
quanto a pessoa que estava discutindo com ele era burra, para ele todos os
argumentos contrários eram alienados e nenhuma fonte que o confrontasse era
confiável. “Ah, como se os dados desse instituto valessem de alguma coisa” “você
não compreendeu o que esse autor quis dizer, mas também, não dá pra culpar, vi
suas notas naquela disciplina”, até mesmo dizia “olha, pode parar de discutir, os seus argumentos são tão ruins
que eu nem vou me dar ao trabalho de responder”.
Ninguém mais levava Olavo a sério, talvez só os seus pais,
para a comunidade acadêmica no geral, ou para qualquer adulto que o visse de
longe, ele tinha virado um ranzinza, uma pessoa que no máximo servia para
divertir, em alguma de suas encolerizadas discussões.
Pobre Lavinho, podia fazer coisas grandes, mas hoje é só um
grande idiota.