sábado, 21 de janeiro de 2012

Estradas e placas



Atravesso novamente essa avenida de morbidez
já passei por uma centena de esquinas de desapontamento
passeio olhando para o chão, porque certa vez
aqui deixei que caísse meu ultimo sorriso
e por isso passo os meus dias a procurar

Poderia produzir outro, porque não?
sorrir é fácil, é como soprar a voz do seu coração
o problema é que também derrubei meu coração
caiu, e seus pedaços se espalharam pelo chão
recolhi tudo o que pude caber em cada mão
não pude recolher tudo
e o que recolhi não servia para muita coisa,
já não preenchia a lacuna a que pertencia
joguei-o fora

A estrada da morbidez possui milhares de desvios e saídas
mas não me atrevo a seguir nenhuma delas, não confio em minha sorte
a minha morbidez realmente nunca foi um beco sem saída
mas de morbidez em morbidez, ainda temo a estrada da morte
estrada essa que não possui placa, como nenhuma das outras
e mesmo que tivesse, porque haveria de confiar em uma placa?

seguindo, por centenas de desvios que me acostumei a ignorar
em um deles, me vi obrigado a parar
não. Não era uma placa
era alguém que me esperava
me aproximei e percebi que ele ela carregava
era um outro sorriso meu, bem melhor do que um dia eu quis
e os cacos reunidos do meu coração, que tornaram a se encaixar em mim
nunca confiei em placas
elas não costumam me explicar nada
mas ela me explica tudo sem dizer nada
por isso confio nessa saída
porque se essa estrada sigo com esta guia
não há motivos pra que nessa vida eu torne a me desvia

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

conto da gaveta.



E aquele instrumento metálico não entendia exatamente a sua própria serventia, apenas contemplava os papéis que dividiam aquela escura gaveta com ele. eles pareciam cheios de informação, podiam até mesmo ajudá-lo a descobrir pra que servia, mas o pequeno instrumento não sabia ler, e mesmo que soubesse, a gaveta era escura demais pra isso, até que teve a brilhante idéia de perguntar diretamente para os papéis.
- o que são vocês?- perguntou o objeto metálico- quero dizer, o que vocês representam?- ao fazer essa pergunta, vários papéis começaram a falar e gritar ao mesmo tempo, o caos foi tamanho que o objeto metálico teve que pedir ordem.
-tá, já entendi que representam várias coisas, mas será que podem falar um de cada vez?- todos se calaram, por algum motivo tinham respeito por ele, e então três papéis resolveram se pronunciar, o primeiro era bem colorido e cheio de detalhes:
-Bem, eu represento todas as cartas de amor que nunca foram mandadas, em minha superfície existem poemas e devaneios escritos, e inclusive endereçados à uma pessoa amada,mas quem me escreveu tem medo da rejeição, então apenas escreve pra guardar na gaveta- Ao terminar de se pronunciar, deu lugar a um papel mais cheio de informação, predominantemente números, e o objeto esperava que o próximo papel lhe ajudasse a descobrir quem era.
-eu represento todas as contas, somos contas de luz, telefone, hipotecas, cartão de crédito, alguns de nós nem saímos do próprio envelope, saímos da caixa de correio direto pra essa gaveta, o que me leva a crer que não temos como ser pagas.- saiu, dando lugar ao ultimo papel querendo se pronunciar, tinha várias palavras escritas, e no fim de si o espaço para duas assinaturas, apenas uma havia sido preenchida.
-Sou um papel de divórcio, e devo ser novo por aqui, faz umas duas semanas que fui jogado aqui sem nem sequer ter sido lido, o que faz com que eu me sinta um tanto quanto inútil, tudo o que eu sei é que serei devolvido assim que assinado, mas não acho que será logo, talvez até me rasguem- com isso, o objeto metálico já sabia muitas coisas sobre o dono da gaveta: ele nao tem dinheiro, nem a esposa, e nem a coragem pra se apaixonar de novo, mas ainda assim não sabia direito sobre a própria serventia, pouco antes de desistir completamente, um pequeno papel amarelo e fino se levanta.
-Você quer saber mais sobre você?-perguntou o papelzinho
-Sim, por favor
-eu sou a sua nota fiscal, sei exatamente quem você é, estava lá no momento em que você foi tirado da loja , e fui jogado ao mesmo tempo nessa gaveta, seu nome de fabricante é "glock"
-glock? o que isso quer dizer?- antes que pudesse ser respondido ,a gaveta onde ele repousava foi violentamente aberta, e ele foi arrancado de lá, pela mão trêmula de um ser humano, com uma blusa branca manchada em lágrimas e uma cara de desespero, pôde perceber que no chão do quarto onde estava também haviam várias contas e cartas de amor, nao sabia muito bem como se sentir, mas estava bem animado, finalmente ia saber sobre a própria serventia, foi levantado lentamente pela mão trêmula, ansioso pelo resultado, e se viu adentrando na boca do seu dono, pensou então que poderia ser uma espécie de escova ou aparelho pra melhorar o hálito, o que quer que fosse descobriria agora.
e qual não foi a sua surpresa quando ouviu um clique saindo de si mesmo e um calor repentino obrigar a cuspir algo pra fora em alta velocidade, agora estava lambuzado de sangue e jogado no chão, e o seu dono estava morto.
-Então é pra isso que eu sirvo....- jogado no chão com um cadáver ao seu lado, se pôs em silêncio, não pela morte do dono, não tinha simpatia nenhuma por ele, mas agora que o seu usuário está morto, essa seria provavelmente a única vez que seria útil.

feridas e cicatrizes



Esconder cicatrizes é fácil. Díficil mesmo é parar o sangramento de feridas recentes.
porque quando ainda está sangrando, tudo dói.
você tenta não pensar na ferida, mas ela tá ardendo, e no momento que você presta atenção nela, passa a sentir ainda mais dor, de modo que fica impossível ignorá-la.
a partir daí, você tem dois caminhos:
O primeiro é se acostumar com a dor, o que não é tão difícil, só precisa de um pouco de tempo. Desse modo, a dor vai te acompanhar todos os dias da sua vida, não vai deixar que você esqueça dela, mas vai se tornar tolerável, assim, pelo menos você consegue realizar as suas tarefas diárias e seguir com a sua vida, e torcer para o sangramento não fazer com que você morra de hemorragia.
o segundo caminho é o menos escolhido porquê leva a uma dor mais forte, é o caminho da recuperação.
Nada que você passe numa ferida aberta vai deixar de arder, e o que costuma ajudar geralmente é o que arde mais.
uma boa dose de realismo é o bastante pra parar o sangramento, se a dor parecer insuportável, se anestesie com doses continuas de amor próprio.
Depois de parar o sangramento, a realidade serve como um bom curativo, porque o que realmente cicatriza feridas desse tipo é o tempo, sem nunca, claro, esquecer de periodicamente passar um pouco dosa velhos remédios na ferida.
infelizmente, as feridas que falo aqui não são simples ou superficiais quanto um joelho ralado numa queda de bicicleta, como feridas profundas que são, farão cicatrizes, e se você mexer muito com uma cicatriz, ela volta a doer.

Voltei.. mas até que eu não queria ter motivos pra voltar



O que te faz escrever?
eu tenho uma teoria muito simples, na verdade, pelo menos é o que funciona comigo.
experimente pensar que você está bem, a sua vida é maravilhosa, você tem uma esposa que você ama e é verdadeiramente correspondido, mora numa boa casa, em um bom bairro, tem vários amigos, e uma carreira de sucesso.
Se eu estivesse nessa situação, provavelmente não teria muito tempo de escrever, e se escrevesse, provavelmente não me sentiria satisfeito com o que escrevi.
Não sou um escritor, tenho 18 anos e faço faculdade de design, escrever (ao menos por enquanto) não é o meu foco de trabalho, portanto, eu escrevo quando quero.
então se escrever para mim é uma escolha, quando eu sinto vontade?
na real, a gente lembra de escrever mesm0, e sente aquela vontade louca de pegar uma caneta ou teclado, quando tem alguma coisa nos causando dor.
Dor, segundo o dicionário aurélio (se é revisto ou atualizado eu tou pouco me fudendo), é um substantivo feminino que designa Sofrimento físico ou moral, aflição ou mágoa.
Com essa explicação, percebe-se que o ~leque de possibilidades~ para "focos" da chamada dor é enorme, vai desde uma unha encravada até um coração partido.
Passei um bom tempo sem dar as caras nesse blog, mas digamos simplesmente que a minha motivação pra escrever tá voltando. então podem esperar muitos posts (ou pelo menos quantos minha criatividade permitir)