domingo, 10 de julho de 2011

último dia

Coloco meus óculos na cabeceira, acho que eu deveria parar de usá-los, estão sem lente à muito tempo.
Deito na minha cama, acho que eu deveria trocar de cobertas, estão muito sujas e eu nunca as troco, não que eu vá trocar agora ou em breve, mas é sempre bom ficar atento pra essas coisas
aprecio o circulo formado pelo ventilador girando enquanto penso porquê ele deveria estar ligado se eu não sinto calor, depois penso nas contas acumuladas e na falta de um emprego, o pensamento logo me incomoda e me coloco de novo à pensar no próprio frio, levanto-me e desligo o ventilador.
Toca a campainha, percebo que embora eu fosse dormir, mal passava do meio dia, Rotina estranha essa de não ter rotina, me obrigo a descer das escadas e chuto um porta retrato, provavelmente deixei cair à uma semana e não percebi. A foto que eu chutei era uma minha sorrindo, ao lado das pessoas que davam razão à minha vida, isto é , quando eu tinha vida.
Abro a porta e sou surpreendido por duas pessoas com uniformes da polícia, me informando que havia uma ocorrência de briga no bar e eu estava sendo chamado para depor como testemunha, não que eu me orgulhe, mas eu sou provavelmente a testemunha perfeita para as brigas naquele bar devido a minha assiduidade, porquê quando se é desemprengado e não tem ambição nenhuma na vida, seguro desemprego vira cachaça, e agora que eu falei, ontem me foram os últimos centavos.
O policial mandou eu assinar uns documentos e assim o fiz, tirou uma caneta de um bolso perto de onde sua arma estava e me entregou, encarei por um tempo aquele objeto capaz de tirar a vida de alguém, ou no meu caso, fazer o coração parar, me detive por alguns pensamentos e olhei para o rosto do policial que atendia, não parecia ser do tipo inteligente, logo ele percebeu o quanto eu encarava a arma e me perguntou qual era o problema, respondi que eu estava curioso e nunca tinha visto uma arma antes, e como previ, sacou a arma e deu na minha mão, senti o frio metálico do objeto pela minha pele, e fui seduzido à uma manobra louca, menti, sabia manusear uma arma bem até demais, e sem que pudesse reagir, o ingênuo rapaz levou dois tiros no peito, caindo pra trás, e chamando a atenção do colega, que já ia sacando o revólver, mas não foi rápido o bastante pra evitar a bala que agora se alojava na sua testa.
Os dois caídos no chão a minha sala de estar, e apenas mais duas balas pra gastar, liguei para a polícia e para o jornal local avisando ter ouvido tiros,e me pus na porta esperando o movimento aumentar.
20 minutos se passaram e agora a minha rua tão abandonada estava cheia, as câmeras voltadas para mim, várias pessoas tentando me acalmar, dizendo que nada disso valia a pena, não pelo suicídio, pois ele só ia parar meu coração, mas porque não quero anos de invisibilidade e falta de sucesso, quando posso ter esse momento.
Aponto o revólver para a multidão e logo fico na mira de várias armas de fogo, poderia eu mesmo tirar a minha vida, mas ser alvejado parece mais legal, afinal, se for pra morrer, que morra com estilo, atirei na direção da multidão e acertei uma pessoa aleatória, e sinto várias dores simultaneas de balas entrando no meu corpo enquanto ele cai ao chão, posso ter exagerado um pouco, mas não preciso me preocupar mais com nada, lembrei dos meus óculos sem lentes, mas minha visão estava tão escurecida que não precisarei trocar novos.

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