sábado, 5 de janeiro de 2013

Cracolândia e internação involuntária, mais perguntas que certezas


Mês passado fiz um texto sobre a influência da mídia na cobertura de casos de tráfico de drogas, que  demonizam traficantes e apagam os rastros dos verdadeiros culpados desta situação. Ontem saiu a notícia de que o Governador Geraldo Alckmin autorizou a internação involuntária de indivíduos da Cracolândia, e me deu vontade de dar uma aprofundada nesse assunto.
O trabalho será realizado junto com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o tribunal de justiça e o Ministério Público, através da chamada  “comissão anti drogas”. O indíviduo será avaliado para saber se é necessária a sua internação, se ele for contra, um juiz pode decretar a sua internação compulsória se constatar que o mesmo “não está em condições para tomar qualquer decisão por si mesmo”
O governador Geraldo Alckmin  disse em entrevista que não pretende agredir ninguém com a internação:
O pior pecado é a omissão. Não é aceitável que haja omissão de todos frente a um problema de saúde pública dessa gravidade. Começamos com o trabalho da internação involuntária, agregamos a Missão Belém, que trouxe mais resultados, e, agora, para os casos mais graves, é ajudar essas pessoas que estão precisando. É com assistência médica, com amparo da Justiça.

Esse assunto sempre levanta a discussão sobre qual é a real intenção do estado para com esse procedimento, estaria mesmo comprometido com a saúde dos usuários, ou este seria apenas um mecanismo de “higienização” de algumas áreas da cidade?

Se é de boas intenções, o governo está no mínimo atrasado, desde 2009 a ONU alerta sobre o crescimento deste mercado ilegal no país, bem antes da situação chegar à esse ponto. Apenas no ano passado se começou  a pensar em um combate intensivo para esse problema, com a operação centro legal, que, apesar de ser proclamada vitoriosa no site da polícia militar, é considerada um fracasso , pois na realidade, agravou ainda mais a situação na área. Há quem diga ainda que essa atitude só foi tomada após a  cobrança por parte de alguns jornais (como a folha de são Paulo) .

Agora, atrasada ou não, internação compulsória é uma iniciativa válida?

Concordo  que, muitas vezes, o dependente químico não é capaz de decidir o que é melhor para si e para os outros, e que muitos deles se tornam hostis no convívio social.  Só acho que dar ao estado função de carcereiro é um tanto preocupante, quem vai fiscalizar o governo para aferir se estão internando as pessoas de forma responsável? E quem vai confirmar se as pessoas internadas estão sendo realmente bem tratadas?  Essas são as perguntas que gostaria que fossem respondidas antes de me posicionar nesse assunto.

Tudo o que vejo nos comentários das notícias nos grandes portais e em redes sociais é a velha e boa intolerância da classe média, que não quer que seus impostos sejam gastos com pessoas que escolheram ser dependentes, cheguei a ver um senhor comentando “tratamento pra vagabundo?, uma bala custa muito mais barato”. É fácil ignorar todo um contexto e colocar a culpa no indíviduo, enquanto vive entre quatro paredes longe de qualquer pressão que lhe faça chegar perto de uma “escolha” como esta. Grande parte da classe média  (ou classes A e B) não tem o menor interesse na recuperação dos dependentes da cracolândia, só gostariam que estes saíssem de seu caminho.

Não custa lembrar que a copa do mundo é ano que vem, não estaria o governo de são Paulo fazendo uma faxina na cidade para que a realidade não assuste os gringos?
Acredito que o cidadão tenha o direito que esta área volte a ser segura para ir e vir, mas a retirada destas pessoas deve ser feita de forma consciente.
Eu quero ver como as coisas vão andar antes de tomar uma decisão concreta sobre este assunto, a principio fica apenas os meus mais sinceros desejos de que este programa realmente auxilie as pobres pessoas da área da Cracolândia.

Existem vários pontos de vista sobre esse assunto, e eu vou deixar links de várias notícias e textos opinativos  sobre isso para você criar a sua própria opinião.
Links:
O crack, o Datafolha e o mito de que a pobreza induz a violência e o vício, embora a esmagadora maioria dos pobres seja honesta e careta (eu sei que é da veja –q)
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-crack-o-datafolha-e-o-mito-de-...
Rio obriga crianças viciadas em crack se internarem; OAB critica 
http://www.youtube.com/watch?v=NaZEEs1ZoBc

Governo federal anuncia 6,4 milhões para tratar viciados http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/governo-federal-anuncia-6-4-milhoes-p...

Ninguém quer agredir ninguém com internação involuntária', diz Alckmin
Alckmin autoriza internação involuntária de dependentes químicos em São Paulo
http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=75650
“Notícias incompletas da cracolandia” Texto do observatório da imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/noticias_incompletas_da_cracolandia
Vídeo do Daniel fraga (que eu, particularmente, achei um pouco radical, mas é uma forma de ver as coisas)
http://www.youtube.com/watch?v=kROkP2g8gXw

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