quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Discussões não são guerras: um desabafo sobre amizade e ideologia



O quanto vale a ideologia que você carrega? Seja ela uma  política, econômica ou religiosa, qual o valor de suas ideias? Quando eu pergunto isso eu quero, especificamente, fazer a seguinte pergunta: O que você sacrificaria por elas?

Pode ser que , por novas convicções econômicas ou religiosas, você resolva se desfazer de bens materiais, largar alguns costumes, deixar de comer certo tipo de alimento ou simplesmente cancelar os compromissos de sábado.  Mas o que fazer com aquelas pessoas que lhe acompanham desde antes de você se lembrar? Vale a pena se desfazer dos amigos?

Quando eu era mais jovem isso me incomodava especificamente quando algum amigo meu se tornava religioso, continuávamos as mesmas pessoas, com personalidades compatíveis e uma série de boas lembranças em comum, mas uma única mudança na crença de um terminava por transformar-nos em perfeitos estranhos.

Sempre começava com o papo de “nada vai mudar”, mas os dias passavam e os meses vinham logo atrás, Conversas de assuntos outrora divertidos se transformavam em uma tentativa de conversão por parte dele, tentando à todo custo fazer com que eu o seguisse, para ser salvo.

Costumo levar isso na brincadeira, mas quando todos os assuntos possíveis acabavam (propositalmente)  convergindo justo  onde divergíamos, ficava difícil manter uma relação agradável. Logo cada um procurou pessoas que pensassem em sintonia com o próprio ponto de vista, e  aquela outrora grande amizade se transformou em uma série de “bom dias”. (O contrário também é valido, se alguém se torna cristão em um grupo de amigos homogeneamente ateu,  é mais do que comum que os mesmos tentem trazer ele de volta, por meio de um constrangimento constante que quase nunca termina bem.)

Ultimamente tenho percebido que este tipo de atitude anda saindo do âmbito religioso e adentrando em outras áreas de discussão que costumam ser “polêmicas”. Amizades terminando porque uma das  pessoas prefere uma visão política de esquerda, porque não concorda com a política de cotas ou por não ter se sensibilizado pelo drama dos guarani kaiowá.

Tá existindo uma dificuldade por parte destas pessoas (geralmente jovens) em separar “ideais” de “indivíduos”. Quando eu critico feminismo, políticas de cotas, internação de gente da cracolandia ou qualquer outro tema, eu estou fazendo uma crítica ao movimento, à entidade amorfa denominada “ideologia” , ou ainda “atitude”, não faço isso para atacar pessoalmente quem segue essas coisas. E eu sei que tem gente que, pra criticar um movimento, sente necessidade de atacar as pessoas que o apoiam, mas isso aí já é outra história.

E eu sei que é difícil não estabelecer preconceito de pessoas que se posicionam de forma contrária às suas ideias, eu mesmo faço isso o tempo todo, é normal. Mas se você conhece alguém, e de repente a sintonia que tinham em alguma área se abalou, você deveria conhecê-la bem o bastante para saber que isso não a torna um indivíduo de má índole.

Você comunista,  existe muita gente escrota e de má índole que concorda com o que você pensa .

Você cristão, não vá pensando que não existem pessoas que fazem muita merda por aí em nome do que 
você acredita

Você ateu,  grande parte das pessoas que pensa como você são um monte de intolerantes, que, sem nenhum estudo, chamam os religiosos de burros.

E por aí vai, eu posso colocar mil exemplos diferentes disso, nenhuma ideologia é à prova de balas, tudo tem falhas,  qualquer que seja  a sua crença, sempre vai existir alguém que a critique (e com razão), não é preciso ser mau caráter para isso.

 Entenda que discussões e divergências não podem ser encaradas como guerras, e sim como uma experiência mútua de aprendizado, quem discorda de você não deveria ser seu inimigo, e sim um companheiro de debates, não perca amigos por conta disso. É defendendo seu ponto de vista de forma saudável que a pessoa se torna íntima de suas ideias, analisando-as e se analisando continuamente, seja para fortalecer o que já acredita ou até mesmo mudar,  afinal de contas,  todos nós temos o direito de “pensar de novo”.

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