quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Drogas : mídia e a opinião pública #Laércio



Eu não quero que ninguém aqui entenda o meu texto como uma apologia ao uso de drogas, sou consciente dos riscos de consumo de qualquer substância entorpecente,  quero mostrar as coisas por um viés ainda pouco explorado.

Porque as drogas assumiram o papel de demônio da sociedade? Quero dizer, ligue a televisão durante a tarde e “zapeie” pelos canais da rede aberta, existe uma grande chance de se deparar com alguma reportagem sobre drogas, mostrando a realidade dos viciados que moram na rua, algum depoimento de um ex usuários ou gráficos estatísticos aleatórios, somados à um discurso genérico de algum psicólogo. A mídia, a política e até as igrejas exploram essa temática como se a mesma fosse a causa de todos os problemas da sociedade, bastando que nos livremos dela para que o mundo se torne um lugar melhor.

Eu vou repetir o que disse no primeiro parágrafo, sei dos riscos do uso de entorpecentes, mas sei também dos riscos do cigarro e do álcool, que não são nem de perto explorados  com tanto empenho. As drogas lícitas não atingiram o status de demônios da sociedade porque estão presentes na vida da “classe média de bem”, que toma uma cervejinha no churrasco de domingo com a família, e que fuma um cigarro de vez em quando para se livrar do estresse de um dia de trabalho, e não quer nem imaginar a vida de quem nem possui um emprego pra se estressar.  Até pra falar mal da dependência do álcool e dos perigos pra saúde, utilizam pessoas pobres, dando a impressão que alcoolismo é “problema de pobre” ou “problema de vagabundo”

Eu não vejo matérias explicando, por exemplo, que ninguém nasce pensando “quero ser traficante”,  mas que essa é a opção que sobra quando a maior parte dos empregadores não quer contratar alguém da favela, ao invés disso, ligo a televisão e vejo televisão os colocando no mesmo patamar de um vilão de história em quadrinhos, que é tão 100% mal que chega até a ser caricato. Vendem a ideia de que o tráfico e os traficantes são a causa de todos os males da sociedade, escondendo  o sistema que gerou a necessidade do tráfico como alternativa de sustento.  É âncora de jornal dizendo que crack SEMPRE vicia de primeira (assim como maconha viciava de primeira, à alguns anos), é “especialista” defendendo esterilização das  mulheres da cracolândia e por aí vai.

E pra que tudo isso? Pra atestar o discurso elitista que justifica desigualdade e prega a indiferença para com o próximo.  Querem jogar na cabeça da opinião pública a ideia  de que “é drogado, por isso merece se fuder”. A sociedade cria o drogado e o traficante, para depois mandar a polícia descer o cacete nele, e acha que isso se chama “fazer justiça”.

Mas essa ideia da mídia é toda muito inteligente, pensa bem, enquanto o vilão da história for o traficante, todos os problemas vão ter a sua justificativa mágica, enquanto a gente não combater o sistema que cria traficantes, eles vão continuar sendo criados não importa quantos a gente mate.  Pense duas vezes antes de odiar um traficante e jogar juízo sobre ele, você não sabe nada sobre como ele viveu nem o que você faria no lugar dele,  mas é como diz aquela música do Max Gonzaga: “é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida”.

O texto tem fontes SIM, que podem te ajudar a se aprofundar mais nesse assunto:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed724_a_fantasia_das_solucoes_imediatas


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