quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Greves e a imprensa



Ando meio revoltado com a mídia, venho lendo alguns textos e livros e aproveitando pra analisar a atitude dela em diversos assuntos de interesse público. Desta vez quero falar sobre greves.

Caracteriza-se  como greve   a atitude de boicote tomada por empregados contra seus patrões,  onde basicamente estes deixam de cumprir as suas funções para pressionar seus empregadores à fazer reajustes (plano de saúde, aumento salarial, diminuição da jornada de trabalho).  A greve  é um dispositivo democrático assegurado pela constituição Brasileira de 1988, através do seu artigo 9º, que diz:

"Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei."

Pois é , o artigo fala que o trabalhador tem autonomia para decidir entrar em greve, independente dos seus interesses e, se existirem  abusos por parte dos grevistas (e existem), serão penalizados pela lei. Posso não ser um entendedor de legislação, mas acho que isso assegura que os grevistas não sejam simplesmente “demitidos por justa causa”, e é uma ótima garantia para o trabalhador ter direito à uma luta justa. Mas eu não estou aqui pra dizer se é justo ou injusto, o  que me incomoda nesse assunto é, principalmente, a cobertura que a imprensa faz dele.

Nesse texto eu vou pegar a  greve dos motoristas de ônibus como exemplo, porque nesse caso fica bem nítido o joguinho que os jornais costumam fazer.

Disfarçado por um discurso “pró-população”, com histórias mostrando cidadãos trabalhadores e estudantes completamente prejudicados pela falta do serviço, os jornais ignoram o fato de que os motoristas também são trabalhadores,  jogando a opinião pública contra eles com um discurso demagogo. A intenção fica ainda mais clara quando vão na rodoviária entrevistar  os profissionais, logo pelo começo do texto ou na fala do repórter do jornal na televisão, se fala coisas do tipo “não tinham muita gente na estação rodoviária, e os poucos que tinham estavam sentados conversando, tudo bem tranquilo”, para, antes mesmo dos sindicalistas abrirem a boca, a pessoa que estiver lendo (ou assistindo) já ache os grevistas um monte de vagabundos.

Passam a ideia de que os grevistas pedem reajustes estratosféricos e mordomias, mas “esquecem” que, muitas vezes, o reajuste anual deles sequer consegue superar a inflação, ou que “mordomias” como plano de saúde é o mínimo para alguém que dirige um ônibus o dia inteiro,  exposto à estresse, acidentes de trânsito e assaltos. Passam isso de uma forma que faz o leitor achar que o jornal está profundamente interessado em resolver a sua vida, quando na verdade o que ele (obviamente) passa são os interesses dos empregadores, porque uma greve sem o apoio da opinião pública é uma greve fraca. E depois que a greve termina, como se já não bastasse,  ainda aparecem matérias dizendo: “após greve, empresas anunciam novo reajuste no preço da passagem de ônibus”, fazendo todo mundo achar que os membros do sindicato e os empresários estavam de esquema.

É claro que o movimento grevista prejudica muita gente nas paralisações, mas os verdadeiros prejudicados nisso tudo são os empresários donos das empresas de transporte público, que possuem dinheiro o bastante para comprar uma materiazinha no jornal. Cuidado quando você compartilha algo na internet chamando motorista de ônibus, professor ou qualquer grevista de vagabundo, vai estar fazendo exatamente o que querem que você faça. Assim como existe mídia que te informa e que te transforma, também existe aquela que só te faz de idiota.

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